MARTIN LLOYD-JONES
A bebida não é um estimulante, é um
agente de depressão. Deprime antes de tudo os núcleos mais elevados do cérebro.
Estes são os primeiros a serem influenciados e afetados pela bebida. Eles
controlam tudo que dá ao homem o domínio próprio, a sabedoria, o entendimento,
a discriminação, o juízo, o equilíbrio, a capacidade de avaliar tudo; noutras
palavras, controlam tudo que faz o homem comportar-se no nível máximo e melhor.
Quanto melhor for o autocontrole de um homem, melhor homem ele será.
O álcool, ou qualquer estímulo
artificial produzido pelo homem, sempre nos deixa exaustos e fatigados. O
Espírito não! A embriaguez esgota; o Espírito Santo não esgota, mas comunica
energia.
[..] O cristianismo é estimulante, o
cristianismo é entusiasmante, o cristianismo é emocionante! É isso o que Paulo
está dizendo: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda" (ou
“excesso”) - não vão atrás de bebida, se é que vocês estão procurando emoção,
ou estímulo, ou alguma alegria - “mas enchei- vos do Espírito”, e terão isso
tudo, e mais. Esta é a tremenda idéia que é tão característica do ensino do
Novo Testamento. O vinho - o álcool - como já lhes tenho lembrado,
farmacologicamente falando não é estimulante; é depressivo.
Apanhem algum livro de farmacologia,
vejam “álcool”, e sempre verão que ele vem classificado entre os depressivos.
Não é um estímulo. “Bem“, vocês dirão, “por que as pessoas tomam álcool em
busca de estímulo?" Num sentido eu já respondi esta pergunta. Eis o que o
álcool faz: ele abate os centros mais elevados e, assim, os elementos mais
primitivos do cérebro vêm à tona e assumem o controle; e o homem se sente
melhor, temporariamente. Perde o seu senso de temor, perde sua capacidade de
discriminação, perde sua capacidade de avaliação. O álcool simplesmente abate
os seus centros mais elevados e libera os elementos mais instintivos, mais
primitivos; mas o homem acredita que está sendo estimulado. O que realmente é
verdade a respeito dele é que ele se tomou mais animalesco; seu controle sobre
si mesmo diminuiu.Isso é exatamente o oposto do encher-se do Espírito; pois o
que o Espírito faz é estimular de verdade. Se fosse possível colocar o verbete
“Espírito” num livro-texto de farmacologia, eu o colocaria entre os
estimulantes, pois é a classe a que Ele pertence. Ele realmente estimula. Não
apenas parece fazê-lo, como acontece com o álcool, e por isso este nos
entontece e nos ilude. O Espírito Santo é um estímulo real, positivo, ativo. Que
é que Ele estimula? Estimula todas as nossas faculdades. Estimula a mente e o
intelecto. Posso prová-lo com muita simplicidade. A história prova que o desejo
de educar-se sempre acompanha um avivamento e despertamento espiritual.
Aconteceu na Reforma, aconteceu após o despertamento puritano, aconteceu de
maneira mais notável ainda após o despertamento evangélico, há 200 anos. Lá
estavam aqueles mineiros e outros beberrões embrutecidos na região central, no
norte e nas vizinhanças de Bristol. De repente, foram convertidos por este
poder do Espírito, e começaram a clamar por escolas, e queriam aprender a ler.
O Espírito Santo estimula a mente. Ele é um estímulo direto para a mente e para
o intelecto. Ele realmente desperta as faculdades da pessoa e as desenvolve.
Ele não produz sobre eles o efeito que o álcool e outras drogas produzem. É o
oposto exato disso; é um estímulo verdadeiro.
Todavia, Ele não estimula somente o
intelecto. Também estimula o coração. Toca o coração; e não há nada que possa
tocar as profundezas do coração como o Espírito Santo. O álcool não toca o
coração. O que o álcool faz, tomo a dizê-lo, é liberar o elemento instintivo da
vida; e o homem o confunde com os sentimentos. Não é verdadeiro; é falso; tudo
isso não passa da superfície.
O alcoolizado realmente não se sente
responsável pelo que faz, e depois fica aborrecido pela generosidade que
demonstrou enquanto estava bêbado. Seu coração não foi tocado, absolutamente;
tudo aquilo simplesmente pôs fora de ação o seu controle superior. Parecia
generoso; no dia seguinte deplora isso, e gostaria de poder anular o ato
praticado. Isso não toca o coração. Mas eis aqui algo que toca o coração,
dilata-o, abre-o. E igualmente a vontade. Certo é que a bebida paralisa a
vontade e deixa ao desamparo o homem. “Olhem para ele”, dizemos,
“irremediavelmente bêbado, incapacitado”. A influência do Espírito Santo,
porém, é uma coisa que toca e estimula a vontade.
LLOYD-JONES,
D. Martin. Vida No Espírito: No Casamento, No Lar e No Trabalho: Exposição de
Efesios 5.18 a 6.9. São Paulo, SP, Brasil. Editora PES, 1991. (p.12,14,16).