AVIVALISTAS DA SEGUNDA BENÇÃO
Por José Gonçalves
A forma como os tradicionais A. B. Simpson, D. L. Moody e R. A. Torrey influenciaram positivamente o pentecostalismo.
A expressão “Segunda Bênção” é por demais conhecida no vocabulário pentecostal. De fato, ela foi tomada como sinonímia para batismo no Espírito Santo. Mas um dado de relevância histórica, que deve ser observado, é que esta expressão já havia sido cunhada antes mesmo do advento do pentecostalismo. É justamente nesse contexto, que aparecem as figuras daqueles que seriam conhecidos como os “avivalistas da Segunda Bênção” – Moody, Simpson e Torrey.
Para entendermos a importância desses três ícones do protestantismo histórico para o pentecostalismo primitivo, faz-se necessário recuarmos no tempo e buscarmos os fundamentos doutrinários lançados por eles, os quais serviram de sustentação ao Movimento Pentecostal na sua fase embrionária.
Na edição 2004, o Almanaque Abril destaca que “por causa de sua grande ascensão, em todo o mundo, no século 20, o fenômeno (pentecostalismo) já é considerado por alguns a maior revolução do cristianismo depois de Lutero. Com um século de notória existência, o pentecostalismo firmou-se como um movimento com legitimidade dentro do cristianismo histórico. A odisséia desse extraordinário movimento do Espírito encontra-se fortemente documentada nas páginas da Bíblia e da História da Igreja”. 1
Uma cristã de nome “Agnes Ozman assegurou um lugar na história pentecostal quando se tornou a primeira pessoa a falar em línguas na escola de Charles Parham, em Topeka, Kansas”, diz E. L. Blumhofer num verbete bibliográfico sobre essa pioneira do pentecostalismo norte-americano. Blumhofer ainda sublinha que “Após a experiência de línguas de Ozman em 1901, ela retornou para um trabalho missionário na cidade. Em Lincoln, em 1906, ela ouviu acerca do pentecostalismo, relatou sua experiência primitiva, e identificou-a com o movimento emergente”.2
Os pentecostais destacam, em sua história, que os nomes da Escola Bíblica Betel, em Topeka e da Rua Azusa, em Los Angeles, no Estado da Califórnia (EUA) são tidos como os endereços onde se registram o advento do pentecostalismo moderno, no início do século 20. No entanto, esses mesmos historiadores têm enfatizado que as raízes desse movimento encontram-se solidamente fixadas no protestantismo histórico, herdeiro da grande Reforma Protestante.
UM TIÇÃO TIRADO DO FOGO
Um dos maiores movimentos de reavivamento da igreja protestante foi aquele promovido pelos irmãos Wesley, na Inglaterra do século 18. É interessante entendermos o reavivamento Wesleyano para que possamos ter uma melhor compreensão do pentecostalismo, pois, como observa o historiador Luis de Castro Campos Jr., o pentecostalismo teve origem nas doutrinas de John Wesley. 3
John Wesley, fundador da Igreja Metodista, nasceu na Inglaterra em 1703 e morreu em 1791. A partir da dramática experiência de sua conversão no dia 24 de maio de 1738 (ao ler o prefácio de um comentário de Lutero sobre a Epístola aos Romanos), Wesley teve sua vida e ministério transformados. Ele observou que a Igreja Anglicana, da qual fazia parte, caíra num ritualismo morto, devido ao seu forte sistema hierárquico e centralizado, que a distanciou das massas.
Wesley renunciou ao clericalismo anglicano, permitindo “a participação de pregadores leigos, entre os quais Nelson, um pedreiro”. 4 Para Wesley apenas ritos não produziam transformação nem santificação na vida das pessoas. Ele “não tinha paciência com coisas secundárias, como mediação sacerdotal e os mágicos efeitos dos sacramentos. Antes, exortava os homens a terem experiência pessoal com Jesus Cristo”. 5
O MOVIMENTO HOLINESS
Por ocasião de sua viagem missionária aos estados Unidos da América, Wesley teve contatos com cristãos piedosos que o despertaram para os efeitos espirituais de uma vida mais profunda. A doutrina bíblica da santificação do crente, esquecida ou não enfatizada pela igreja de seus dias, encontrou em Wesley um ardoroso defensor.
A santificação do crente como um outro estágio da vida espiritual e posterior à conversão, enfatizada por Wesley, foi a grande bandeira levantada por avivalistas do século 19. A esse respeito observa Luís Castro Campos Jr.: “A preocupação com a ‘santificação’ foi passando de movimento a movimento, avançando no tempo, e chegando aos grupos pentecostais, originando sua doutrina básica: o batismo do Espírito Santo”. 6
Essa busca por uma vida mais pura, uma herança do metodismo wesleyano, foi difundida pelos avivalistas da santidade, também denominados de holiness. “Pouco depois da Guerra Civil norte americana, na segunda metade do século 19”, observa Joe Terry, foi, formado um movimento chamado Movimento Nacional da Santidade, o qual incorporava acampamentos e reavivamentos freqüentes, que faziam constantes as atividades desses grupos. 7 Ainda sobre o movimento holiness, o pastor Joe Terry destaca ainda que “em torno de 1880 os membros pobres queixaram-se de que a religião do coração, como era conhecido o metodismo, estava desaparecendo. Grupos surgiram nas Igrejas Metodistas e ‘Metodistas Episcopais’, chamados holiness, que queriam uma volta aos princípios de Wesley.
A doutrina da perfeição, acentuada por ele tinha pouco efeito, segundo eles, na maioria da Igrejas Metodistas”. 8 A pregação holinnes tornou a por em destaque a necessidade de o crente possuir uma vida mais profunda com Deus. Nesse novo contexto doutrinário, uma vida mais santa surgia com força como uma segunda bênção ou segunda obra da graça, enquanto a justificação aparecia com a primeira.
O Movimento da Santidade preparou o protestantismo norte-americano para o advento do pentecostalismo. Historiadores pentecostais sublinham que o pentecostalismo surgiu do Movimento da Santidade do século 19. A formulação do Evangelho integral, o zelo pela evangelização do mundo nos últimos dias e a oração intensiva pelo derramamento do Espírito Santo precipitaram os reavivamentos em Topeka, Los Angeles e os muitos que surgiram”. 9
O pentecostalismo, portanto, não surgiu do nada, mas há todo um contexto histórico-teológico no qual a pregação dos avivalistas da segunda bênção ocupou um papel central. É dentro desse contexto que as figuras dos três mais importantes avivalistas da segunda bênção são peças-chave para se entender o pentecostalismo. A propósito Paulo Romeiro observa que “a ênfase na perfeição cristã ou na inteira santificação, ensinadas por Wesley, mais tarde receberiam outros nomes: “Segunda Bênção” e “Revestimento de Poder”, por exemplo. 10
O termo batismo no Espírito Santo passaria a ser usado por alguns grupos posteriormente. Outros líderes e denominações na América do Norte seriam influenciados pelos mesmos ensinos e se encarregariam de disseminá-los. Entre estes destacaram-se Charles G. Finney, Dwight L. Moody, A. B. Simpson, Andrew Murray e R. A. Torrey”.
A. B. SIMPSON
Albert Benjamim Simpson (1843-19191) foi classificado como proto-pentecostal devido à afinidade que sua doutrina teve com o movimento emergente da Rua Azusa. De acordo com a obra The New international Dictionary of pentecostal and Charismatic Moviments, Simpson foi o fundador da Aliança Bíblica Missionária e pastor presbiteriano que apascentou diversas igrejas. Em 1881, ele deixou o pastorado da igreja da cidade de Nova Iorque para dirigir um trabalho independente, onde Simpson tinha pretensão de alcançar as massas sem igreja.
O trabalho de Simpson seria amplamente conhecido por meio do termo “Evangelho Quadrangular”, no qual Cristo é visto como Salvador, Santificador, Médico e Rei. Cada um desses termos são explicados com detalhes em sua obra As Quatro Dimensões do Evangelho. 11
Os historiadores observam que ele foi identificado tanto como pregador, avivalista e um profeta da santidade, que proclamava a necessidade de se viver uma vida mais profunda. Todavia a obra de Simpson não pode ser vista apenas por esse ângulo. Ele também foi um grande fomentador das missões mundiais, escatólogo e teólogo. É um fato que a Teologia Pentecostal bebeu muito da fonte de Simpson.
C. Nienkirchen observa que a continuidade ideológica entre as doutrinas de Simpson e aquelas esposadas pelos pentecostais podem ser estabelecidas em vários pontos:
Sua interpretação restauracionista da evolução da história da Igreja, desde a Reforma Protestante, salienta a convicção de que a presente Era se conclui com os dias das “últimas chuvas”. Por isso necessitaria ser acompanhada por manifestações sobrenaturais do Espírito Santo, tais como línguas, milagres e profecias remanescentes da “chuva primitiva” no pentecostes (Atos 2). Nienkirchen ainda observa que Simpson exortou os crentes a orar por aquelas evidências especiais do poder divino típicas dos avivamentos passados.
Simpson se opôs à noção dispensacional de que os dons do Espírito Santo tinham cessado com o fim da era apostólica. Com base em João 2 e 1Coríntios 12, ele entendeu que os dons espirituais teriam continuidade até à Segunda Vinda de Cristo. Nienkirchen ressalta que ao tomar conhecimento dos fenômenos desencadeados na rua Azusa, em 1906, ele reconheceu o valor das línguas na Igreja como “uma expressão de elevado sentimento espiritual e intenso mover do coração”. Mas ele estava consciente do lugar que as línguas ocuparam na Teologia paulina. Para Simpson, Paulo havia colocado esse dom em último lugar por causa dos abusos no seu exercício.
Para o fundados da Aliança Bíblica Missionária, as línguas poderiam ser conhecidas ou desconhecidas, mas não possuíam um papel evangelístico para os novos pagãos, como criam muitos pentecostais. A sua posição com respeito ao fenômeno da glossolalia, conforme ele mesmo escreveu, era: “Este dom é um entre muitos, e é dado a alguns para benefício de todos.
Assim a atitude para com o dom de línguas a ser adotada pelo pastor e pela congregação deve ser: “não busquem, não proíbam”.
Como os pentecostais que o seguiram, Simpson estava preparado para usar o padrão da vida espiritual retratada em Atos dos Apóstolos como norma de existencial pela qual a fraqueza da igreja do seu tempo deveria ser medida. Com sua abertura para uma teologia onde o sobrenatural tinha seu lugar, ele queria com isso se precaver do formalismo que havia tomado conta das igrejas.
A doutrina pentecostal fundamentada fortemente nas narrativas de Atos já havia sido prenunciada por Simpson. Os discípulos em Samaria (Atos 19) davam a ele a sustentação de sua doutrina dos dois passos para o início da vida cristã – a regeneração e o enchimento do Espírito Santo.
Posteriormente ele escreveria: “Nascidos no Espírito, nós também devemos ser batizados com o Espírito Santo, e logo viver a vida de Cristo e repetir a sua obra. Deve ser destacado aqui que embora os pentecostais tenham bebido muito da Teologia de Simpson, ele mesmo rejeitava a doutrina pentecostal da evidência inicial. Todavia “o corpo doutrinário de Simpson testemunha uniformemente para a sua concepção do batismo no Espírito como ocorrendo subseqüentemente à regeneração. Iniciado pela leitura de A vida Cristã profunda (1858) de W. E. Bordman, Simpson recebeu o batismo no Espírito Santo em 1874, durante seu segundo pastoreio em Louisville, Kentuchy (EUA). 14
Na teologia de Simpson, observa-se que ele se referia à doutrina da Segunda Bênção de uma forma variada. Era uma “Segunda Bênção”, mas também foi uma “Crise de Santificação”, ou “A unção”, “Selo”, “Enchimento do Espírito” ou ainda “Cristo no Interior”.
Por último, deve ser destacado que apesar da grande influência que a Teologia de Simpson incidiu ao pentecostalismo, o próprio Simpson fez pesadas críticas ao Movimento Pentecostal. Em um documento enviado à CMA, em 1908, ele acusou a doutrina pentecostal da evidência inicial de focalizar as manifestações espirituais em detrimento de uma vida devocional mais profunda com Deus e reduzir o zelo evangelístico da igreja.
D. L. MOODY
Dwight L. Moody (1837-1899) foi, sem dúvida alguma, o maior evangelista do século 19. No livro Os 100 Acontecimentos Mais Importantes da História do Cristianismo, Moody ocupa um lugar de destaque. 15 Moody foi um evangelista que não teve educação formal. Ele só freqüentou a escola de uma forma regular por um período de uns quatro a cinco anos. Mas a sua determinação em conquistar seus objetivos fez com que ele superasse sua carência. De família pobre, teve que se dedicar ao trabalho muito cedo. Esse fato seria agravado com a morte de seu pai. Ainda adolescente, ele deixou o convívio familiar para se aventurar na vida.
Não tendo muita qualificação Moody não conseguiu o emprego que desejava, tendo que ir trabalhar com um tio em comércio de sapatos. Embora tenha sido catequizado ainda muito cedo por sua mãe, ele logo esqueceria daquelas preciosas lições dadas por sua genitora. O encontro dele com o Evangelho de uma forma mais consistente aconteceu quando passou a freqüentar uma igreja e a ser visitado por um professor da Escola Dominical. Foi esse professor que viria causar um impacto profundo na vida de Moody. De fato ele testemunhou: “quando eu estava em Boston, costumava freqüentar a Escola Dominical e, certo dia, lembro-me de que meu professor foi até a loja onde eu trabalhava, colocou o braço sobre meus ombros e falou-me de Cristo e da minha alma. Até então, eu não sabia que tinha alma, por isso disse a mim mesmo: É muito estranho. Aqui está um homem que me conhece a tão pouco e chora pelos meus pecados, e eu nunca derramei uma lágrima por ele (…) Pouco tempo depois desse fato passei a fazer parte do Reino de Deus”. 16
Em 1873, Moody em companhia de Ira David Sankey, famoso cantor evangélico, rumara para as ilhas Britânicas onde promoveram poderosas cruzadas evangelísticas. A notícia do enorme sucesso obtido por Moody na terra da rainha logo chegou aos Estados Unidos.
Harold H. Fischer destaca que “após a sua volta, eram assediados por todos os lados por pedidos para realizações de trabalhos. Fez uma campanha no Brooklim na qual a assistência atingiu mais de 5 mil pessoas, e dentro de pouco tempo depois 2 mil pessoas estavam convertidas. A grande e antiga estação ferroviária Pensilvânia, na Filadélfia, foi preparada com assentos para 10 mil pessoas, e apesar do tempo chuvoso, o salão ficou quase lotado na primeira noite. A assistência foi boa, os cultos eram úteis e número de convertidos foi avaliado em 4 mil. 17
Todo esse enorme êxito que Moody obteve em seu trabalho evangelístico é atribuído à sua estreita comunhão com o Espírito Santo. R. A. Torrey, amigo e companheiro por muitos anos, testemunharia mais tarde que: “Muitos perguntaram: Qual é o segredo do sucesso desse homem? É uma curiosidade muito natural. Ele tinha poder. Mas onde ele conseguiu essa estranho poder para conquistar a afeição e a decisão dos homens? Ele soube e nós também podemos saber. Era a unção do Espírito Santo”. 18
Para Moody a experiência com o Espírito Santo era um fato bem definido. Ele também fazia parte da escola dos avivalistas da Segunda Bênção. Steve Miller observa que às vezes nem sempre a doutrina pneumatológica de Moody é entendida, o que tem levado alguns erroneamente a pensarem que ele defendia uma segunda experiência de conversão. As próprias palavras de Moody, no entanto, lançam luz sobre a sua doutrina acerca da Terceira Pessoa da Trindade. “Há uma diferença”. Disse, “entre ser morada do Espírito Santo e deixar-se encher de poder por Ele. O verdadeiro filho de Deus, lavado pelo sangue de Cristo, é o templo ou morada do Espírito Santo. No entanto, o indivíduo pode não ter a plenitude desse poder”.
Moody testemunha que foi em 1871, quando se encontrava na cidade de Nova Iorque, que ele pediu e recebeu a Segunda Bênção: “O tempo todo eu clamava para que Deus me enchesse com o seu Espírito. Então, certo dia, na cidade de Nova Iorque (…) Ah! Que dia! Sou incapaz de descrevê-lo. Raramente falo sobre ele; foi uma experiência sagrada demais para ser mencionada (…). Posso apenas dizer que Deus se revelou a mim e experimentei de tal forma o seu amor e precisei rogar-lhe que retirasse de mim a sua mão. Fui pregar outra vez. Os sermões não foram diferentes; eu não apresentei nenhuma verdade inédita, mas, ainda assim, centenas converteram-se. Não quero voltar a viver como eu viva antes daquela experiência abençoada, nem que me oferecessem o mundo inteiro – ela seria como um grão de areia no oceano (…) há dois períodos bem distintos em minha vida. O primeiro, entre os meses de vida e os 18 e 19 anos, quando nasci do Espírito (…) A maior bênção depois do segundo nascimento aconteceu 16 anos depois, quando recebi a plenitude do Espírito”.
Não há registro que nos permita assegurar que o sinal que o grande evangelista tenha recebido como prova do recebimento da segunda bênção tenha sido o falar em línguas, mas há registros confiáveis que nos asseguram que o dom pentecostal era conhecido por meio de sua pregação.
R. Boyd, um pastor batista e amigo de D. L. Moody, escreveu em 1875 em seu livro Provas e Triunfos da fé. “Quando cheguei ao Vitória Hall Londres, encontrei a assembléia ardendo em línguas e profetizando. Qual seria a explicação de tão estranho acontecimento? Somente que Moody os estava dirigindo naquela tarde”. 21 Este fato permitiu John White afirmar que “num certo sentido Moody poderia ser classificado como um pregador pré-pentecostal, embora as línguas não possam ser ditas como algo que caracterizou os seus cultos de avivamento. Esse evento, entretanto, indica que a glossolalia às vezes acompanhava a sua pregação”. 22
R. A. TORREY
Reuben A. Torrey foi um fiel colaborador de D. L. Moody, trabalhando ao seu lado até a sua morte. Harold H. Fischer observa que Moody nomeou Torrey em 1890 como diretor de seu Instituto de Instrução Bíblica, posteriormente denominado de Instituto Bíblico Moody, na cidade de Chicago. Fischer lembra que Torrey encorajava constantemente o espírito avivalista na congregação. Sendo um homem que cria fervorosamente na oração, ele insistia com o povo a que se entregasse a ela e suplicasse que Deus enviasse o seu Espírito para avivar a sua obra no mundo. Logo, ele se tornaria conhecido como poderoso pregador do Evangelho. Há registros de que Torrey tenha promovido uma reunião de oração por um período de um ano no Instituto Bíblico com o propósito de clamar pelo avivamento.
Torrey foi um poderoso teólogo. As suas obras teriam uma grande influência na formação doutrinária do pentecostalismo clássico. Ele está inserido no contexto dos pregadores restauracionistas. William W. Menzies destaca que “D. L. Moody, R. A. Torrey, A. B. Simpson e uma platéia de outros grandes líderes de reuniões públicas, quase sempre de diversas linhas denominacionais, chamavam as pessoas ao arrependimento e ao Evangelho à moda antiga“. 23 Apesar dele ter deixado um grande legado para a Doutrina Pentecostal, Torrey fez duras críticas ao movimento emergente. Em um de seus textos, ele chegou a acusar o pentecostalismo de “ter sido fundado por um sodomita”. 24 Mas a sua crença no batismo no Espírito Santo, como sendo uma experiência subseqüente ao processo de regeneração serviria como fundamento teológico para os primeiros pentecostais.
A sua obra O Batismo no Espírito Santo, escrita em 1895, tornou-se suporte para a crença pentecostal na doutrina que colocava o batismo no Espírito Santo como uma experiência distinta da regeneração, uma Segunda Bênção. De fato, L. Lovett observa que este livro “encontrou caminho nos corações de muitos líderes holiness, que posteriormente tornou-se proeminente no desenvolvimento do Movimento Pentecostal.
Nesse livro, Torrey faz uma poderosa apologia sobre a doutrina do batismo no Espírito Santo como sendo uma segunda bênção distinta da salvação.
Na página 5 ele afirma: “O batismo no Espírito Santo é uma operação do Espírito Santo, separada e distinta de sua obra regeneradora”. 26 Em seguida, ele justifica a sua crença: “Ser regenerado pelo Espírito Santo é uma coisa, e ser batizado é algo totalmente diferente. É uma outra coisa. Isso está claro em Atos 1.5, onde Jesus disse: “Sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias”. Até então, ainda não haviam sido “batizados com o Espírito Santo”. Mas já eram homens regenerados. O próprio Senhor Jesus já havia afirmado isso.
Em João 15.3, ele dissera aos mesmos homens: “Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado” (comparar isso com Tiago 1.18 e 1Pedro 1.23). E em João 13.10: “Ora, vós estais limpos, mas nem todos”, deixando fora, com a expressão “mas nem todos”, o único homem não-regenerado do grupo apostólico que era Judas Iscariotes (ver João 13.11). Assim sendo, os apóstolos, com exceção de Judas Iscariotes, eram homens regenerados, sem serem ainda “batizados com o Espírito Santo”.
Pelo exposto, torna-se claro que a regeneração é uma coisa e que o batismo com o Espírito Santo é diferente. Uma pessoa pode ser regenerada, e ainda não ter sido batizada com o Espírito Santo. A mesma coisa é evidente em Atos 8.12-16. Encontramos aqui um grupo de crentes já batizados. Não há dúvida de que, naquele grupo de crentes batizados, havia alguns regenerados. Mas o registro informa que quando Pedro e João desceram “oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (porquanto não havia descido sobre nenhum deles)”.
É claro, portanto, que alguém pode ser crente, pode ser homem regenerado, e contudo não ter ainda o batismo no Espírito Santo. Em outras palavras, o batismo com Espírito Santo é algo distinto, e mais do que sua obra regeneradora. Nem todo crente regenerado tem o batismo com o Espírito Santo, embora, segundo veremos adiante, todo homem regenerado pode receber esse batismo. Quem já passou pela obra regeneradora do Espírito Santo, é salvo, todavia, não está preparado para o serviço do Senhor enquanto não tiver recebido o batismo no Espírito Santo”. 27
Esta é a grande contribuição dos avivalistas da Segunda Bênção para o movimento pentecostal. Gary B. McGee observa que a “crença numa Segunda obra da graça não ficou confinada ao círculo metodista”. (…) Embora a Teologia da Reforma haja identificado o batismo no Espírito com a conversão, alguns avivalistas, dentro dessa tradição, aceitavam o conceito de uma Segunda obra da graça para revestir os cristãos com poder do alto. Entre eles, se encontravam Dwight L. Moody e R. A. Torrey. Apesar desse revestimento de poder, acreditavam que a santificação mantinha-se em sua obra progressiva. Outro personagem chave, um ex-presbiteriano, A. B. Simpson, fundador da Aliança Cristã Missionária, cuja forma de pensar teve grande impacto na formação doutrinária da Assembléia de Deus, enfatizava nitidamente o batismo no Espírito Santo. 28
O pentecostalismo apareceu na “plenitude dos tempos” e estes três “gigantes”, representantes do protestantismo histórico, foram usados por Deus para darem a devida sustentação doutrinária.
Por, José Gonçalves – Ministro do Evangelho, articulista, escritor.
Manual do Obreiro (CPAD) – 2006.
BIBLIOGRAFIA
1Almanaque Abril, Editora Abril, 2004, Sessão Religiões.
2 BURGESS, Stanley M. The New International Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements. Zondervan, Grand Rapids, Michigan, USA, 2002.
3 CAMPOS Jr., Luiz de Castro. Pentecostalismo Sentidos da Palavra divina. Ed. Ática, São Paulo.
4 CAMPOS Jr., Luiz de Castro. O pentecostalismo. Op. Cit. p.13.
5 CHAMPLIN, Norman R. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Ed. Candeia.
6 CAMPOS Jr., Luiz de Castro. O pentecostalismo. Op. Cit. P.16.
7 CHAMPLIN, Norman R. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Ed. Candeia.
8 TARRY, Joe E. Avivamento: o propósito eterno de Deus – dá vitória à confusão ecumênica.
9 MCGEE, Gary B. In: Teologia Sistemática, uma perspectiva Pentecostal. CPAD, Rio de Janeiro, 1996.
10 ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a graça. Mundo Cristão, São Paulo.
11 SIMPSON, A. B. As quatro dimensões do Evangelho. Editora Betânia, Venda Nova, Minas Gerais.
12 OSBORNE, G. O. In: Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Editora Betânia, Venda Nova, Minas Gerais.
13 OLIVEIRA, Raimundo. A doutrina Pentecostal hoje. CPAD, Rio de Janeiro.
14 The New International Dictionary of Pentecostal Movements. Zondervan, Grand Rapid, Michigan, EUA.
15 KURTIS, A. Kenneth. Os 100 fatos mais importantes da História do Cristianismo. Editora Vida, São Paulo.
16 MILLER, Steve. Liderança espiritual segundo Moody. Editora Vida, São Paulo, SP.
17 FISCHER, Harold A. Avivamentos que avivam. Trad. O. S. Boyer, Pindamonhangaba, SP.
18 MILLER, Steve. Liderança espiritual segundo Moody. Editora Vida, São Paulo, SP.
19 Ibdem.
20 MILLER, Steve. Op. Cit. pág. 72-73.
21 OLIVEIRA, Raimundo. A doutrina Pentecostal hoje. CPAD, Rio de Janeiro. Op. Cit.
22 WHITE, John. Quando o Espírito vem com poder. Op. Cit.
23 MENZIES, William W., Robert P. No poder do Espírito, fundamentos da experiência Pentecostal. Ed. Vida, São Paulo, SP.
24 WHITE, John. Quando Espírito vem com poder. Op. Cit.
25 LOVETT, L. The New International Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements. Zondervan, Grand Rapids, Michigan, USA.
26 TORREY, R. A. O batismo no Espírito Santo. Editora Betânia, Belo Horizonte, Minas Gerais.
27 Ibdem.
28 McGEE, Gary In: Teologia Sistemática, uma perspectiva pentecostal. CPAD, Rio de Janeiro.